Sem um pingo de rebeldia,a tatuagem agora enfeita a patricinha – e os pais dela também ......
Modelos, advogados e personal trainers fazem. Médicos também. E mais punks, clubbers, hippies e patricinhas. As tatuagens, que já foram marca registrada de marinheiro, presidiário e jovem rebelde, multiplicaram-se nestes tempos em que todo mundo quer exibir e realçar corpos bem-feitos. Não passam mensagem nenhuma – simplesmente enfeitam. O resultado é que a menina ou o menino tatuado, que antigamente escondia o desenho meses a fio com medo da reação dos pais, agora faz e chega em casa se exibindo, todo orgulhoso. Mais: corre o risco de mamãe e papai resolverem fazer uma também. "O número de pessoas tatuadas está crescendo porque a sociedade mudou. Há uma enorme segmentação, a diversidade cultural aumentou muito e, com isso, as pessoas passaram a fazer mais coisas diferentes, que por sua vez já não chamam tanto a atenção", analisa a antropóloga Silvia Helena Simões Borelli, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Causa ou conseqüência, ajuda a popularizar o pedacinho de pele gravada o grande número de celebridades tatuadas. Em apresentadores, é praticamente obrigatório (Fernanda Lima, Marina Person, Thatiana Mancini, Marcos Mion, João Gordo, Penélope Nova, Monique Evans). Idem no clube de ex-participantes de Casa dos Artistas (Mariana Kupfer, Syang, Joana Prado, os gêmeos Gustavo e Flávio, Alexandre Frota). Atrizes e atores têm em grande quantidade (Luana Piovani, Mel Lisboa, Susana Werner, Marcello Antony, Paulo Vilhena). Modelos, que por força da profissão deveriam cultivar um corpo sem marcas, passaram a contrabandear um desenhozinho aqui, outro acolá. Dos contratados da agência Ford Models no Brasil, cerca de 10% são tatuados. "Há cinco ou dez anos, arranjar trabalho para uma modelo com tatuagem era muito difícil. Ou era em lugar bem escondido, ou era disfarçada com maquiagem. Hoje, é muito mais aceita no mercado, principalmente o brasileiro", diz a diretora da agência, Denise Céspedes. Até a top das tops, Gisele Bündchen, tem a sua: uma (copiadíssima, por sinal) estrelinha no pulso.
Essa turma é a ponta mais visível de uma legião de vaidosos de todas as idades que mandaram gravar desenhos variados pelo corpo. "Há dez anos, era difícil tatuar um médico. Hoje é freqüente: médico, advogado, dentista, promotor, delegado, todo mundo faz", entrega o tatuador Caio Freire, do Rio de Janeiro. Os tatuados das profissões mais convencionais em geral fazem a decoração corporal em áreas cobertas pela roupa do dia-a-dia – mas é só chegar à praia ou à piscina e, pronto, podem botar banca de surfista. O engenheiro Duílio Zanardo, 39 anos, tem uma enorme cabeça de índio no braço há um ano; seu colega Fernando Prado, 31, ostenta um polvo e um tubarão faz três anos. Convivem muitíssimo bem com os desenhos. "A tatuagem não me atrapalha em nada no trabalho. Até porque o Duílio, que é dono da empresa, tem uma maior que as minhas", brinca Prado. Os personal trainers Felipe Pita, 27 anos, e Beto Rangel, 32, por força do uniforme de sua profissão – calção e camiseta cavada –, expõem seus desenhos praticamente em tempo integral. "Ainda existe um pouco de preconceito, mas é muito menor do que já foi, até pela quantidade de gente tatuada. Acho que metade dos meus alunos tem tatuagem, normalmente pequenas e em lugares discretos", atesta Rangel. A quantidade de pessoas comuns aderindo é tão grande que o tatuador Sergio Pisani, do estúdio Tattoo You, de São Paulo, arrisca uma estimativa: "Podemos dizer que 20% do público atual cinco anos atrás jamais faria uma tatuagem".
Diante do movimento, os próprios estúdios de tatuagem se transformaram. De lugares escuros e freqüentemente escusos, com paredes forradas de desenhos e fotos, viraram salões claros e assépticos. "Muitas vezes, a menina traz a mãe para conhecer o estúdio e ela se surpreende de ver como o ambiente é agradável", diz o tatuador Sérgio Maciel, o Led's, há vinte anos no mercado, que atende em uma casa ampla de São Paulo, com a sala de tatuagem revestida de azulejos claros do piso ao teto. É nessas ocasiões que, eventualmente, a mãe acompanhante se anima e também se submete às agulhadas. Além da tatuagem em família, é comum a tatuagem em grupo, principalmente de adolescentes. Na Escola Nossa Senhora das Graças, em São Paulo, Bianca Ribeiro, 17 anos, e suas amigas exibem seus desenhos de estrelas e motivos tribais, felizes e tranqüilas. Teoricamente, não poderiam: uma lei do Estado de São Paulo proíbe tatuagem em menor de 18 anos, mesmo que tenha autorização dos pais. É o tipo de regulamentação que tenta legislar sobre comportamento, mas, como outras, nunca pegou. O que pegou mesmo foi o gosto de tatuar o corpo.
fonte: Veja
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